Paulo Matos: O destino correto para o Banco do Nordeste
- By Paulo Rogério Faustino Matos
- Gestão Pública em Debate
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No século XX, economias emergentes em períodos desenvolvimentistas e países desenvolvidos em recuperação pós-guerra identificaram nos Bancos de Desenvolvimento uma solução para intensificação do processo de industrialização.
Neste contexto, o Banco do Nordeste tem exercido um papel historicamente relevante, porém controverso. As evidências empíricas reportam impactos ambíguos dos financiamentos do banco em termos de empregos gerados ou produtividade.
Esta discussão consiste em um terreno fértil para "soluções" sobre seu futuro, como privatização ou incorporação ao BNDES. Ambas não são adequadas no momento. Os R$ 32,5 bilhões do FNE investidos em 2018 não devem ser geridos por técnicos situados fora da região e nem pela iniciativa privada.
O banco deve permanecer sob controle público, mas não político, e deve evitar um relacionamento estreito demais com grandes empresas. A realidade compartilhada por pesquisadores nesta área, sem viés político ou ideológico, é baseada na literatura de sistema financeiro e desenvolvimento.
Esta sugere que seja necessário avaliar o papel do banco de fomento ao longo do seu ciclo da vida. Assim, nós pesquisadores entendemos que o Banco do Nordeste não deva mudar apenas de logomarca ou práticas operacionais. Nós financistas sabemos que a instituição precisa manter as políticas de transparência, compliance e gestão de risco, ao passo que precisa mudar, atuando apenas para completar o mercado de crédito privado e não concorrer com este. Nós que conhecemos a região sabemos que o básico ainda nos falta e quais são nossas vantagens comparativas desassistidas. Sabemos que o Nordeste persiste com os piores indicadores sociais, econômicos e de infraestrutura básica, com pontuais avanços do capital humano.
Em suma, só importa projetos cujo retorno seja social maior que o privado. O banco deve usar sua rede de 292 agências em 268 municípios e quase 7.000 funcionários que conhecem o cidadão nordestino para primar por: saneamento básico junto aos municípios; capital humano das gestões das prefeituras; potencial dos arranjos e cooperativas locais; ferramentas de inovação tecnológica; energia limpa e sustentável; capital humano no nível técnico; crédito apenas para micro e pequenos empresários. O Nordeste agradece!
*Paulo Rogério Faustino Matos é doutor em Economia/Finanças e vice Coordenador CAEN/UFC.
(Publicado em março/2019, no jornal O Povo)