BNB: mentes brilhantes x mentes mesquinhas
- By Hermano José Batista de Carvalho
- Gestão Pública em Debate
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O governo federal pretende privatizar ou fazer uma incorporação do Banco do Nordeste, com outros bancos federais como o BNDES, Banco do Brasil ou Caixa Econômica. Como pode isso?
O Banco do Nordeste foi concebido, em 1952, pela Lei 1.649, tendo como base os estudos e modelos elaborados no Ministério da Fazenda do governo de Vargas, por pessoas da estirpe de um Rômulo Almeida.
Portanto, a concepção dessa Instituição, feita por economistas de mentes brilhantes, foi única e criou um banco de desenvolvimento inédito, pois que os modelos até então concebidos - e o BNDES já o fora - não atendiam as peculiaridades típicas de uma região marginalizada e que não merecia qualquer atenção da banca privada, não fora pelos parcos financiamentos da produção, a juros altos.
Não só inédito, também transgressor!
Primeiro, porque contrariou a linha de pensamento da reforma do sistema financeiro que se configurava desde 1945 e que já pregava a especialização dos seus atores. Depois, porque organizou-se como um "banco múltiplo", quando ainda nem se sonhava em utilizar o termo, incluindo as carteiras de fomento, comercial e de investimentos. Além do mais, permitiu a abertura de agências na região, dando uma capilaridade original a um banco de desenvolvimento, desprezando a forma adotada nos modelos de organizações da espécie até então.
Ademais, o BNB foi dotado de uma unidade produtora de conhecimentos, o Etene, pois seus criadores tinham consciência de que o subdesenvolvimento econômico não se resolve somente pelo aporte de capitais, mas também pela acumulação de conhecimentos, que venha a favorecer o incremento da capacidade empresarial.
Estamos diante, pois, de uma organização de alta complexidade, que primeiro precisa ser muito bem entendida, para depois ser modificada. Isso necessitaria novamente de mentes brilhantes, que pensassem muito além da eficiência representada por resultados meramente financeiros, como pensam as mentes mesquinhas.
*Hermano José Batista de Carvalho é professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) - publicado no jornal O Povo, em março de 2019.