DIÁLOGO E RESULTADOS
- By LEON SANTOS
- Adm. Marcos James
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Reitor da Unicatólica, de Quixadá-CE, Marcos Bessa conta alguns dos segredos que o levaram a ocupar o cargo máximo de uma instituição de ensino superior
Nomeado reitor da Unicatólica, de Quixadá-CE, aos 36 anos de idade, o administrador e professor Marcos Bessa conta, nesta edição da RBA, como foi sua trajetória profissional, com sucesso marcado por ter foco em inovação e em suas próprias soft skills. Nas linhas a seguir, ele mostra que dedicação aos estudos e amor à pesquisa pode ser uma boa saída aos administradores que têm afinidade pelo campo educacional. Além de sua graduação em Administração e Direito, ele coleciona títulos e experiências, como mestrado em Administração, e doutorado na área de Educação. Como profissional, foi coordenador de curso (ADM) e gerente nas áreas de Marketing e Gestão de Pessoas.
RBA: Como o senhor, um administrador, se tornou reitor da Unicatólica? Conte suas principais dificuldades em seu trajeto até aqui, e o que fez para superar tais adversidades.
Bessa: Iniciei minhas atividades na Unicatólica em 2011, como professor do curso de Administração e coordenador do setor de Gestão de Pessoas. Mas ao longo da minha trajetória na instituição, tive a oportunidade de gerenciar setores como o administrativo e o de marketing, além de participar de grupos importantes, como a Comissão Permanente de Avaliação (CPA), de vestibular e inovação.
Em seguida, fui convidado para assumir a coordenação do curso de Administração e, depois, a pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa. No plano de sucessão da reitoria, passei por uma criteriosa seleção, até me tornar reitor e ser nomeado pelo chanceler e bispo diocesano de Quixadá-CE — presidente da mantenedora, uma vez que a Unicatólica é um Centro Universitário que pertence à diocese local.
Cheguei na instituição graduado em Administração e Direito, com mestrado em Administração. Lá optei por ingressar no doutorado em Educação — oportunidade que
tive ao enfatizar meu conhecimento na formação de professores, saberes docentes e práticas de ensino.
Uma das principais adversidades que enfrentei foi a resistência de profissionais com idade maior que a minha; mas a superei por meio de diálogos e demonstração de resultados. Outra dificuldade foi me deparar com a relutância das pessoas no processo uma vez, o diálogo e, desta vez, a motivação foram os recursos utilizados para superar essa questão.
O diálogo é o caminho. Inclusive a campanha da fraternidade deste ano é ‘Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor’. E a terceira dificuldade foi cursar o doutorado e trabalhar ao mesmo tempo; mas a dedicação, perseverança e principalmente o apoio da família foram os ingredientes mais importantes em todo o processo.
O que a área da Educação pode ensinar à Administração e viceversa? Como esses dois segmentos, juntos, podem ajudar na formação de melhores profissionais e, sobretudo, melhores líderes?
Em tempos em que o mundo clama por uma educação integrada — entre instituição de ensino superior (IES), sociedade e mercado de trabalho —, as áreas de Educação e Administração se complementam. A Educação pode ensinar à Administração os percursos formativos que os administradores precisam trilhar para constituir seus saberes e práticas profissionais — de modo que adquiram competências, habilidades, atitudes, valores e espiritualidade para que se tornem bons gestores, diante de um contexto social, econômico e político complexo.
Já a Administração pode ensinar modelos de gestão eficientes aos educadores para que continuem formando pessoas e transformando realidades, por meio de lideranças inspiradoras. O foco da gestão por resultados, somado ao processo de humanização da Educação, quando bem utilizados, podem gerar frutos frondosos para o bem comum.
O ensino da Administração hoje nas faculdades está adequado ao que o mercado procura? Como é possível melhorar?
Infelizmente não está. A mudança para adequar o ensino da Administração ao que o mercado procura pode acontecer com a medida já apoiada pelo Conselho Federal de Administração (CFA) que é atualizar a Diretriz Curricular Nacional (DCN).
O Parecer CNE/CES n.° 438/2020 traz o texto da nova DCN, em substituição à Resolução CNE/CES n.° 4, de 13 de julho de 2005. Em resumo, essa ação já foi pensada para adaptar o ensino da Administração às novas exigências do mundo contemporâneo, mas acredito que não podemos parar por aí.
É necessário investir na formação de professores, pois são eles que ensinarão os futuros administradores.
"É necessário investir na formação de professores, pois são eles que ensinarão os futuros administradores. Os bacharéis não foram preparados para serem professores, logo precisam adquirir saberes e práticas docentes para formar o profissional que o mercado precisa."
Marcos Bessa, administrador e reitor da Unicatólica, de Quixadá-CE
Os bacharéis não foram preparados para serem professores, logo precisam adquirir saberes e práticas docentes para formar o profissional que o mercado precisa.
Deve haver, também, uma aproximação das instituições de ensino superior, das coordenações, dos colegiados de professores e do curso de Administração, junto às empresas. Assim, poderão suprir essa lacuna que existe entre formar gestores e a necessidade do mercado.
Durante a pandemia, constatamos dois dos principais gargalos da sociedade que são a Saúde e a Educação. Suponho que nós temos bons profissionais da Saúde e também bons educadores, espalhados pelo Brasil. O que está faltando, então, para o Brasil deslanchar e crescer de vez nessas duas áreas?
Saúde e Educação são duas áreas coletivamente relevantes. Acredito que falta, ao crescimento das duas áreas, sobrepor o interesse coletivo ao individual. Além disso, ter mais empatia ao próximo, pensar e agir para atender às necessidades da coletividade, atuar com meritocracia e realizar mais diálogos.
Dono de tom de voz suave, comportamento analítico e palavras comedidas, o administrador Marcos Bessa investiu na carreira de docência e transcendeu, ao unir ensino e gestão. Aos 36 anos, chegou ao cargo máximo da instituição e se tornou reitor da Unicatólica, de Quixadá-CE.
Com bastante desenvolvidas, e diálogo constante, ele superou as desconfianças (em razão de sua pouca idade), bem como as dificuldades encontradas ao longo de sua trajetória profissional. Ele lembra, no entanto, que mais do que apenas habilidades comportamentais é preciso antes de tudo ter competência técnica () e otimismo.
Desde o início da pandemia, percebemos certa dificuldade de nossos governantes, de todas as esferas (Executivo, Legislativo e Judiciário), em lidar sabiamente com o problema. Sem entrar em questões políticas, temos uma crise de gestão pública, no geral? Em caso afirmativo, o que fazer para salvar o Brasil desse cenário de crises sanitária e econômica?
A pandemia tem nos ensinado que o Estado e a sociedade civil precisam estar em sintonia para solucionar um problema público mundial que diz respeito a todos. Mas será que conseguimos essa harmonia?
O Estado precisa portar-se com intencionalidade para solucionar problemas públicos sanitários e econômicos, enquanto a sociedade precisa avaliar as tomadas de decisões e exigir melhorias. Neste momento, as questões políticas precisam ficar de lado e focar na pronta reestruturação sanitária e econômica, por meio de políticas públicas eficientes e desburocratizadas.
Como educador e administrador é possível que o senhor tenha feito uma espécie de benchmarking junto ao ensino de outros países. Qual modelo, de qual país, te chamou mais atenção pela qualidade e por quê?
Na Educação, o ensino precisa ser moldado ao contexto e à realidade local de onde a instituição está inserida. Copiar um modelo de um local e implantar em outra realidade pode não dar certo, mas a qualidade educacional que mais me chamou atenção é a da Finlândia, porque lá os professores são merecidamente reconhecidos.
Os docentes universitários estão entre os mais bem vistos, entre as profissões, e lá não há distinção entre o professor da educação básica e universitários. Todos são reconhecidos, o que eleva a qualidade do ensino, sendo este alicerçado em um projeto pedagógico que conecta alunos, universidades e empresas. Gosto ainda da qualidade reconhecida das universidades americanas pelo alto impacto de suas pesquisas científicas.
O que o senhor tem visto, no Brasil ou no mundo, que te trouxe esperança quanto ao futuro do nosso país e ao futuro do planeta? O que ainda pode ser explorado em termos de conhecimento, tecnologia e ações para melhorar a qualidade de vida das populações mais carentes?
O que vi no mundo, e me trouxe esperança para o nosso planeta, foi o Papa Francisco convidar e selecionar cinco mil jovens, de várias crenças e nacionalidades, para compor uma proposta inovadora, sustentável e humanizada de economia. Ele nomeou este movimento de ‘Economia de Francisco e Clara’.
Eu tive o prazer de participar e de compor uma equipe denominada ‘negócios em transição’, que elaborou propostas para que as empresas possam responder às mudanças sociais, tecnológicas e ambientais. Ela irá propor transformações profundas não apenas em seus produtos e serviços; mas na forma como são produzidos, em sua finalidade, nas suas relações internas (como trabalho e governança) e externas: como bem comum e inclusão com ênfase na população menos favorecida.
Temos muito a explorar em termos de conhecimento. Já dizia Sócrates, “Só sei que nada sei”. Mas acredito que os changemakers serão os responsáveis em melhorar a qualidade de vida das populações.
Observe, por fim, as reflexões que os agentes transformadores como Greta Thunberg, Luisa Neubauer, Malala Yousafzai e o cearense Felipe Caetano trouxeram para o mundo. Salta aos olhos, quando testemunhamos jovens voluntários que, com amor ao próximo, se dedicam a causas relevantes para a sustentabilidade do nosso planeta.
Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA
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